O palco cheio de pessoas. Entre aplausos, gritos e abraços, elas comemoravam. O gesto de união era representativo. “Nós somos fortes, porque somos muitos”, disse Wilbert Santos, da Comissão de Moradia e Meio Ambiente de Desenvolvimento Local Integrado Sustentável (Rede Dlis), responsável por um movimento de resistência ao desmatamento do Parque da Lagoa da Viúva, localizado no bairro Bom Jardim, no leste da cidade de Fortaleza. A ação coletiva de reflorestamento e proteção do Parque Ecológico, realizada por mais de 50 moradores da comunidade que fizeram o replantio de uma área de mais de 70 mil metros quadrados de mata nativa, antes destruída por um trator, foi a grande vencedora do VII Prêmio de Gentileza Urbana, promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Ceará (IAB-CE).
“Nosso grito hoje é: Salve a Lagoa da Viúva”, enfatizou Francisca Nascimento, também representante da ação agraciada pelo certame. “Compreendemos que as poucas áreas verdes precisam ser preservadas para o bem de nossa cidade. O Parque é uma patrimônio verde de Fortaleza. Compete a nós, moradores daquela área, cuidar desse patrimônio de todos. Convocamos também a Prefeitura de Fortaleza a fazer seu papel”, disse ela. A cerimônia de entrega do prêmio aconteceu ontem, 25, no Museu da Indústria, tendo sido mantido o sigilo do vencedor entre os cinco finalistas.
Ao todo, foram indicadas 55 ações gentis pela cidade. Tendo por objetivo reconhecer iniciativas no âmbito da arquitetura e urbanismo e gestos que se qualifiquem como gentilezas que melhorem a vida dos habitantes dos centros urbanos, a sétima edição homenageou o escritor de paredes, o poeta dos muros, o sapateiro Alves. Inspiração cotidiana para quem passa pela Avenida Engenheiro Santana Júnior, próximo ao terminal do Papicu, e atenta para os dizeres. Simples e honestos: “Faça o bem. Seja feliz.” Com alegria no sorriso e pandeiro na mão, o homenageado recebeu certificação do evento e ainda tocou para o público, numa manifestação espontânea de bom humor.
Águeda Muniz, titular da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), considera que Seu Alves representa o que se pensa sobre ser gentil. “Uma das figuras de nossa cidade que contribuem para o nosso bem-estar. Quando estamos parados no semáforo e olhamos aquele muro todo colorido com frases que nos emocionam, nós acreditamos que a nossa vida e a nossa cidade podem ser melhores”, disse. A cidadania passa justamente pelo sentimento de fazer o bem e de felicidade.
Como falou Custódio Santos, presidente do IAB-CE, faz-se cada vez mais necessário divulgar o conceito de cidadania urbana para o fortalezense. “A população precisa entender mais sobre sua responsabilidade cidadã no sentido mais amplo que o conceito representa”. “A responsabilidade de cuidar de Fortaleza não é apenas do poder público, mas de todos nós. Isso pode ser feito com gestos simples, como não jogar lixo nas ruas, praças e recursos hídricos; utilizar com zelo os equipamentos públicos; ter respeito aos ciclistas, aos pedestres e aos animais; e se locomover de forma mais civilizada possível”, esclareceu.
Entre as autoridades presentes, o arquiteto e urbanista Odilo Almeida, na condição de presidente, representou o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE), que apoiou a edição deste ano. Para ele, o Prêmio tem proporcionado às pessoas a reflexão sobre gentilezas, fazendo, essencialmente, um contraponto ao momento de tantas indelicadezas presenciadas nos dias de hoje. “Então falar de gentileza é ajudar a tensionar para o bem as lutas sociais. Essa é a posição do Conselho: impulsionar a sociedade para o bem”, afirmou. Também prestigiaram o evento o diretor de arquitetura do Departamento de Arquitetura e Engenharia do Estado do Ceará (DAE), Paulo Hissa, e o diretor do Museu da Industria, Luis Carlos Sabadia.
Cinco finalistas
A arquiteta e urbanista Clélia Carvalho, coordenadora do Prêmio e também homenageada por seus esforços em realizá-lo, explicou que, em cada edição, há uma comissão julgadora formada por pessoas de diversos segmentos, “antenadas com a cidade”. Neste ano, os membros – Eustogio Dantas, Felipe Araújo, Fernanda Lacerda Rocha, José Alberto de Almeida, Maisa Vasconcelos, Nely Rosa, Preto Zezé, Silvania de Deus e Totonho Laprovitera – estiveram reunidos na sede do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Ceará (CAU/CE) para a seleção dos finalistas. “É importante que fique claro que é seguido um regulamento, mas a metodologia fica a cargo do júri, que tem autonomia e possui decisão soberana”, disse. Para Clélia, “não se trata de um concurso de ideias, méritos ou resultados estéticos em suas realizações, mesmo porque existem ações sem locais definidos e imateriais. Por isso, outras iniciativas, além de arquitetura e urbanismo, configuram-se como gentilezas, desde que melhorem a qualidade de vida da nossa cidade. Confira os finalistas.
Henrique Torres, voluntário no Instituto Doutor José Frota (IJF) – Além de trabalhar para uma empresa de embalagens plásticas há 25 anos, ele presta serviços voluntários aos finais de semana no Instituto Doutor José Frota (IJF), transportando pacientes nas macas, dando-lhes conforto, banhando, contatando familiares distantes.
Escola Bike Anjo Fortaleza (EBA) – Além dos atendimentos individuais, o projeto ensina cerca de 50 pessoas por mês a pedalar em bicicletas na Praça Luiza Távora, todo segundo domingo do mês desde 2003.
Arquibancada no espigão da Praia de Iracema, ação do Grupo Concreto Urbano – Intervenção organizada pelo Projeto Mobiliário Urbano que busca repensar os elementos imateriais que compõem o espaço coletivo da cidade. Ao todo, foram instaladas 78 cadeiras, que devem ficar permanentemente nas pedras do espigão da Praia de Iracema.
Itauvan Gomes, motorista de ônibus – Conhecido por sua gentileza com os passageiros e colegas de trabalho, condutor da linha 841 – HGF/Papicu/RioMar. Dentre muitas gentilezas, ele espera pacientemente todos subirem no coletivo, deseja bom dia e indica as melhoras paradas aos passageiros.
Reflorestamento no Parque Lagoa da Viúva, ação da Comissão de Moradia e Meio Ambiente de Desenvolvimento Local Integrado Sustentável (Rede Dlis) – Realizada por mais de 50 moradores do Bom Jardim, a ação de resistência ao desmatamento proporcionou o replantio de uma área de mais de 70 mil metros quadrados de mata nativa, antes destruída por um trator.
Assessoria de Comunicação CAU/CE
