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MODERNAGENS MODERNAS DA MODERNIDADE, uma crônica de Romeu Duarte

Ah, Senhor, como está sendo difícil aturar, neste mundão velho e sem porteira que Vosmicê criou, precisamente nesta Taba de Tupã, terra doida de Mãe Preta e Pai João, certas transformações que a evolução(?) dos costumes nos está a impor. Aliás, o uso do gerúndio na primeira parte do período anterior, à moda dos operadores de tele-marketing sudestinos, e o emprego do mesmo tempo do verbo à portuguesa, em seu final, são apenas algumas das irritantes evidências das mudanças que nos agridem a todo instante no cotidiano. Chega o amigo há muito não visto e, na primeira de copas, constata-se que o indivíduo já foi infelizmente contaminado pela impiedosa febre. São modismos, preferências, gestos, falares, coisinhas de nada que nos abalam e atormentam.

Por exemplo: no quesito gastronomia, vivemos a cruel ditadura da rúcula e do tomate seco. Sensaborões, os dois ingredientes pululam em todos os pratos dos estrelados restaurantes da city, nestes tempos em que comida é remédio e que não se deve comer e, sim, alimentar-se para emagrecer. Enquanto isso, nossa gorda e autêntica cozinha de raiz vai para o beleléu, tendo como ponto de partida o esquecimento de suas próprias receitas. E quanto aos muitos viajantes de mala nova que abundam por aí? É um tal de misturar os destinos do Novo e do Velho Mundo, entrelaçando o Ocidente com o Oriente, que a sambada bússola dos papalvos perde o norte. Aí, meus caros, quem sofre são as oiças: terruá, fuágrá, dáuntáun, autilet, parkilet, capita? Pobre língua pátria…

Na arquitetura atual, quem estabelece os programas e define os ambientes parece ter dividido o mesmo assento com os viajores recém mencionados. Experimente ler um caderno imobiliário de qualquer jornal local: ao adentrar o Bairro Design, você encontrará, no Luxury Shopping Residence, o Espaço Zen e a Tenda Gourmet adequados ao seu conforto, porque você é Prime. As construções não mais como moldura de um viver simples, mas apenas investimento, luxo e espetáculo. No âmbito urbano, estamos presos aos grilhões politicamente corretos dos bike-maníacos, dos eco-chatos e das sentinelas da acessibilidade, todos de panópticos arregalados num infindável plantão punitivo. E pensar que a liberdade era só uma calça azul e desbotada…

Pode ser um problema de geração. Para mim, cinema tem que ter gangsters, muito tiro, carrão preto à toda numa cidade escura, uma loura sexy e fingida e o Edward G. Robinson. Ou então bandidos mal encarados, muito tiro, índios sanguinários em seus cavalos malhados, uma mocinha valente e de coração mole e o Clint Eastwood. Hoje não é bem assim. A sétima arte, que sempre significou movimento e graça, é, em boa medida, um modorrento teatro filmado. Será maldição? Para ser premiado, nos dias que correm, terá um filme que ser obrigatoriamente soporífero, ininteligível e pessimamente interpretado e dirigido? Há bem duas horas, o diabo dessa fita iraniana não sai do close de um rosto angustiado. Enquanto isso, um certo cinema se reproduz como praga.

A lista é imensa. Suntuosas festas de casamento, nas quais as pessoas, de tão maquiadas, montadas e produzidas, delas você não reconhece nem o cheiro. Entreouvido de drones entregando pizza em domicílio: “Vê para mim uma “Wings”, mezzo pepperoni, mezzo calabresa, ok?”; “Perfeito, o pedido segue no próximo vôo”. A enxurrada de prêmios, medalhas, condecorações e troféus que acontece todo final de ano em solenidades marcadas por longos e dispensáveis discursos e terninhos mamãe-eu-vou-para-San-Francisco. Já posso ouvir o eco das reprimendas: “invejoso”, “babaca”, “ultrapassado”, “liso”, “preconceituoso”. É o mal de quem dá a cara a bofete. Fico por aqui, Urtigão em meio ao consolo de minhas lembranças e dos valores ranzinzas desta vida.

Uma resposta

  1. Genial!Concordo!Devemos valorizar e preservar a nossa história, costumes, valores e identidade!!!!!!!

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