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Uma nova Beira-Mar em Fortaleza?

Marcio Rodrigo Côelho de Carvalho

Conselheiro Federal pelo Ceará do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR)

 

Quantas reformas já houve e quantas haverá? Quais as demandas constitucionais que fundamentam intentos e resultados a partir da justiça e equidades sociais e do direito à cidade, ao lazer, ao meio ambiente nesta última proposição? Como podemos perceber as pré-existências que testemunham as diversas temporalidades nesta repaginação? Onde estão os pescadores e as comunidades do Poço da Draga, Iracema, Santa Terezinha, Mucuripe, Serviluz? Como se deram os gestos participativos neste processo? Houve debate público? Onde está o mar, a beira, o novo? De onde veio a areia das dunas artificiais que dilatou a faixa seca? Para onde foram as águas que ali estavam?

Seria uma beira-sem-mar? Beira-areia? Onde estão as praias dos Crush, Iracema, Volta da Jurema, Náutico, Meireles, Mucuripe, Serviluz? Tudo é genericamente Beira-Mar? Onde estão a vegetação e os espaços sombreados e a confortável relação com os ventos e com o sol intenso e presente diariamente? Alguém viu a feirinha de ocupação efêmera e desmontável? E a escala humana no mobiliário urbano? O que está para além daquela monumental esplanada de concreto horizontal e potencializada pela parede de espigões apinhados? Conseguem ver o mar além dos carros que arrebentam no calçadão? Seria uma beira-estacionamento? Quantos quiosques descortinam o mar, saúdam o céu, o sol, a lua e as estrelas, comunicam-se com o calçadão e abraçam o abundante vento? Quantos estão desnudos, sem muros, cortinas de voais, chitas, cercas, divisórias?

Onde está a paisagem cultural local que não seja dubaizada, nipônica, franchisada, eurocentrizada e miamizada? Existe ideia e ação que driblem o costumeiro laboratório do cosmopolitismo provinciano estandardizado? Que não recaia no disneyficado redesenho de uma faixa de areia, contornada pela superfície dura e impermeável, quase adornada por devaneios pós-modernistas temporãs: roda gigante, aquário e caiadas e incandescentes casinhas santorinizadas no morro Santa Terezinha? Entre tantas outras indagações, carece a mais importante e vital de todas: onde coube e está a cidade de Fortaleza nesta “nova” “beira” “mar”?

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